Nos municípios do interior afastados dos centros urbanos, o clima é de
medo. Os rastros de destruição provocados por grupos criminosos contra agências
e postos de atendimento bancários deixam a população temerosa com a
possibilidade de mais um ataque. Só este ano, segundo o Sindicato dos Bancários
da Paraíba (SEEB/PB), foram registradas 115 ocorrências, sendo 53 com a
utilização de explosivos (dados atualizados até 25 de dezembro). Em algumas
cidades da Paraíba a população está sem banco e se vê obrigada a percorrer
quilômetros para pagar contas e receber o salário do mês.
Do terraço de casa, no município de Capim, a 41 quilômetros de João Pessoa,
Sinaria Semeão observa a lotérica de portas fechadas. Há três meses o
estabelecimento foi arrombado durante a madrugada por bandidos que até hoje não
foram identificados. Com medo, os proprietários da lotérica decidiram suspender
o atendimento por tempo indeterminado. Um mês depois desse fato, na mesma rua,
um posto do Bradesco foi alvo de explosão e também fechou as portas.
A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA esteve no município e encontrou os resquícios
dos ataques. No posto do Bradesco, que está sendo reformado, é possível ver o
caixa eletrônico totalmente destruído em consequência dos explosivos. O teto, o
ar-condicionado e o piso do posto de atendimento ainda revelam as marcas do
ataque criminoso. Nas paredes, as rachaduras provocadas pela explosão chamam a
atenção e amedrontam quem mora nas proximidades.
O estudante Victor Hugo Costa mora na casa vizinha ao posto do Bradesco. Ele
disse que estava dormindo com a família quando houve a explosão. “Foi um susto
para todos nós. Imagine o que é ser acordado com um barulho desses”, declarou o
morador. Segundo ele, essa foi a segunda vez que o posto foi explodido. O temor
da família do estudante é que as consequências sejam mais drásticas. “Espero
que os explosivos não atinjam minha casa, é um risco constante, mas não vamos
nos mudar”, afirmou.
No caso de Sinaria Semeão, a mulher que mora na frente da lotérica, o que mais
incomoda é o fato de ter de se deslocar para o município de Mamanguape, que
fica a 10 quilômetros de distância, para pagar as contas do mês e receber o
Bolsa Família. Para isso, ela tem de pagar R$ 10 pela ida e volta no transporte
alternativo. Um trabalho a mais para quem antes só precisava atravessar a rua.
“Vivemos com medo de que aconteça novamente. Sem contar que é muito ruim não
ter um banco”, declarou.
No município de Itapororoca, a 70 quilômetros da capital, o clima também é de
insegurança entre os moradores. O mototaxista Alvediniz Santos da Silva disse
que a lotérica já foi assaltada diversas vezes e que já houve tentativa
frustrada de roubo à única agência do Banco do Brasil localizada na principal
rua da cidade, que tem cerca de 17 mil habitantes, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A tentativa à qual o mototaxista se refere ocorreu em julho deste ano, quando
bandidos armados colocaram dinamites na agência, mas sem êxito. O grupo saiu
revoltado e efetuou vários disparos para o alto, deixando a população
apavorada. Quando a polícia chegou ao local, foi surpreendida por grampos
colocados no meio da rua, o que furou os pneus da viatura.
JP