A Mobile World
Congress - maior feira de tecnologia móvel do mundo - chamou muita atenção do
público com um anúncio inesperado: o 3310, clássico celular da Nokia lançado em
2000, vai voltar às lojas em 2017, com direito a design repaginado e algumas
boas referências ao modelo original.
Mas o que faz a
Nokia apostar tanto em um produto mais do que ultrapassado? Afinal de contas, o
3310 não é um smartphone, o que significa que ele não oferece uma boa
experiência online e sequer é aberto para a instalação de novos apps.
Além das claras diferenças no design, o novo "tijolinho" da Nokia tem
também especificações bem datadas: câmera de apenas 2 MP, menos de 160 MB de
memória interna e sequer é capaz de se conectar ao Wi-Fi. Não dá para usar o
novo 3310 nem para mandar mensagens pelo WhatsApp.
Mas, quase 10
anos depois que o mercado de celulares mudou para sempre com o iPhone e o
Android, qual o sentido de uma empresa dar tanto destaque a um
"dumbphone"? A julgar pelo contexto em que está inserido, esse novo
3310 parece ser nada mais do que um inteligente investimento em marketing.
É importante
destacarmos que a Nokia que faz esse novo 3310 não é a mesma que fez o modelo
original. A empresa foi comprada pela Microsoft em 2013, quando foi fundida à
sua divisão de tecnologia móvel. O negócio não deu certo e, pouco a pouco, a
Microsoft se desfez dos profissionais que fizeram a Nokia original.
No ano passado,
tudo o que restou da Nokia foi seu nome, que acabou revendido pela Microsoft
por bem menos do que pagou em 2013. A marca foi parar nas mãos da finlandesa
HMD Global, que fez questão de anunciar que a levaria de volta ao mercado com
novos smartphones Android o mais rapidamente possível.
É claro que,
antes de voltar para valer, a Nokia precisaria ressurgir das cinzas no
imaginário coletivo. Uma forte estratégia de marketing era muito importante,
pois a HMD precisava fazer com que as pessoas se lembrassem da Nokia, dos
produtos de sucesso que a marca lançou no passado e que se esquecessem dos
fracassos mais recentes.
Existe maneira
melhor de lembrar do sucesso passado da Nokia do que relembrar o 3310? Há anos
o aparelho é mantido vivo em fóruns e redes sociais, citado sempre como um
exemplo de celular resistente e de bateria durável, um artefato nostálgico do
qual poucas pessoas tem más lembranças.
Para cada novo
iPhone que chega ao mercado, tem sempre alguém fazendo piada com a durabilidade
dele em relação a um Nokia 3310. Se os novos smartphones se destacam pela
versatilidade, também deixam a desejar em eficiência prática. "Se um
iPhone 7 cai no chão, quebra-se o vidro; se um Nokia 3310 cai no chão,
quebra-se o chão", costuma brincar o público.
O aparelho é um
dos principais símbolos da marca Nokia, e por isso faz todo o sentido que seja
revitalizado como jogada de marketing. A produção e comercialização de um
celular desses custa muito pouco em comparação com o desenvolvimento de
smartphones modernos. Vendido pelo equivalente a R$ 160, o relançamento do 3310
é o que, nos negócios, se chama de "no-brainer": uma decisão óbvia,
quase sem custos, a resolução mais simples para um problema.
A própria HMD
duvida que o futuro do mercado seja uma volta aos "dumbphones". Tanto
que fez questão de anunciar três novos smartphones Android na mesma MWC em que
revelou o novo 3310. Não há planos de realmente montar sua estrutura de
negócios em cima de celulares simples, mas sim de reforçar ao público a ideia
de que a marca está viva e pronta para recuperar seus dias de glória.
A volta do
"tijolinho" nada mais é do que um símbolo desse renascimento. Se a
estratégia vai funcionar ou não, só o tempo dirá. Mas a julgar pelo barulho que
esse relançamento fez, é justo afirmar que, pelo menos em um primeiro momento,
o marketing fez seu papel.
Olhar Digital