A
greve dos caminhoneiros, que parou o país por 11 dias, chegou ao fim após
negociações com o governo federal. Com o movimento encerrado, grupos de
WhatsApp que eram usados para combinar as manifestações se tornaram fábricas de
notícias falsas. Os boatos envolvem a legislação, decisões judiciais e incitam
que a categoria volte a fechar rodovias. A mensagem mais compartilhada “revela”
que, durante o fim de semana, milhares de caminhões seguiram para Brasília. A
Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que não registrou nenhum tráfego
incomum de caminhões nas vias que dão acesso à capital.
O Portal Correio entrou em um dos grupos de WhatsApp, criado para mobilizar
caminhoneiros do Rio de Janeiro, mas que reúne motoristas de todo o país. Com
233 participantes, a reportagem acompanhou as mensagens durante dois dias. A
mensagem com maior disseminação está relacionada a uma suposta volta da greve.
No texto, está a promessa de levar 50 mil caminhoneiros para protestar na
capital federal. De acordo com a publicação, o local de encontro dos
manifestantes no Distrito Federal é o estacionamento do Estádio Nacional de
Brasília Mané Garrincha.
Vídeos
e fotos de desconhecidos em frente aos veículos de carga são usados para
persuadir os integrantes a rumar até o Planalto Central. A maioria das imagens
foi gravada à noite, o autor do vídeo não se identifica e não é possível ver
com clareza o local exato onde ocorreu a gravação. Entre as publicações que
fortalecem os boatos, algumas chamam atenção. Elas oferecerem pacotes com perfis
fakes para propagar as informações inverídicas.
De
acordo com uma das propostas, um pacote com mil perfis fakes sai por R$ 150.
Com R$ 850, é possível adquirir 8 mil contas falsas, que podem ser usadas para
aumentar o número de seguidores nas redes sociais ou visualizações em vídeos
publicados na internet. O mesmo internauta oferece o serviço de falsificação de
documentos, como CNH e cartão de crédito.
A
força dos boatos preocupa o governo, que decidiu manter os encontros diários
para avaliar a situação. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional,
Sérgio Etchegoyen, afirmou os possíveis impactos dos boatos estão sendo
analisados. “Nossas reuniões e os acompanhamentos continuam. Estamos
verificando quais são as consequências dessa eventual mobilização convocada
para amanhã, mas sem nos preocuparmos a ponto de novo alarde, obviamente há de
que se acompanhar. O governo não lida com boatos, com mentiras e imprecisões”,
afirmou.
Intervenção
Ontem,
no Mané Garrincha, havia 15 caminhões estacionados. Além disso, cerca de 20
motociclistas, cinco vans do transporte escolar e um grupo que clama por uma
“intervenção militar” também se reuniram no local. A todo momento os
caminhoneiros se reúnem em círculo, em formato parecido com as entrevistas
coletivas de imprensa. No centro, um caminhoneiro, rodeado de pessoas com
celulares que gravam os vídeos, que em questão de minutos, serão difundidos na
internet. Um deles é o motorista Wallace Landim, conhecido como “Chorão”, de 39
anos. Ele é apontado como um dos líderes dos caminhoneiros autônomos e seus
vídeos chegam a 4 milhões de acessos. “Estamos convocando todos para parar
Brasília. Não teve acordo com o governo. Esse acordo não foi feito por quem nos
representa”, diz ele para um grupo de 30 pessoas.
Questionado
sobre como está a mobilização e qual seria o horário do protesto, ele confessa
que muitos caminhoneiros podem não chegar ao Distrito Federal. “Nós estamos
chamando motoristas de todo o Brasil pelo Facebook e pelo WhatsApp. Temos
virtuais em todos os estados. Eles estão com dificuldade de chegar até aqui,
muito por conta da distância. Não temos horário marcado para ir ao protesto,
mas vamos até a Esplanada”, completa.
Portal
Correio Brasiliense