O
ser humano é marcado pelo processo de mudança constante. Passamos por diversas
fases durante o período em que aqui vivemos. Fases de acertos, fases de não
acertos, tempo que marca nossas vidas positivamente ou negativamente. O
importante é ter em mente que o seu amanhã dependera de suas escolhas e não
necessariamente do que aconteceu no passado.
Frequentemente, ficamos pensando
no passado. Há um ditado que diz: “A única coisa constante na vida é a
mudança.” A maioria das pessoas acredita que isto é verdade. À medida que
avançamos com a nossa vida, as pessoas que conhecemos as coisas que vemos, e as
emoções que sentimos nunca permanecem as mesmas. Impreterivelmente, as pessoas
que conhecemos hoje, não serão o mesmo amanhã por causa do simples fato de que
elas cresceram e ficaram um dia mais velhas, as coisas que conquistamos, que
adquirimos ou que ajudamos a construir podem ser retiradas apenas num piscar de
olhos. Até mesmo as nossas emoções são muitas das vezes imprevisíveis. Aquilo
que sentimos exatamente de uma determinada forma hoje, muito provavelmente não
poderá ser sentida da mesma forma novamente. Neste mundo confuso, nada é
permanente a não ser a própria mudança.
Tudo na vida vai e vem,
mas há uma coisa que não se altera: o passado. Pelo menos de forma concreta e
factual. Como está definido no dicionário, é algo que está acabado, completo, e
já não está mais na existência. Algo como palavras pronunciadas, oportunidades
que foram ignoradas e eventos que há muito tempo que aconteceram. Este é aquele
tipo de coisas que não podemos ter de volta ou voltar atrás, são coisas que
nunca poderemos ter novamente e da mesma forma. Nós nunca poderemos voltar
atrás, voltar a estar no mesmo lugar, ao mesmo tempo, não podemos voltar atrás
no tempo para apagar as coisas que fomos fazendo, ou proteger-nos do sofrimento
que sentimos no passado. Nós já sabemos que desejar que pudéssemos mudar o
passado é algo inútil, mas como seres humanos que somos, muitos de nós
continuaremos a lamentarmo-nos e a ter a esperança de voltarmos a ter a chance
de fazer tudo novamente. Mas por quê?
Há momentos na nossa vida
em que nós simplesmente não conseguimos deixar as coisas ir. No que diz
respeito, por exemplo, aos assuntos do coração, todas as pessoas que viveram a
separação ou perda no amor certamente sentiram dor e mágoa. Por circunstâncias
desconhecidas, as promessas e as esperanças que tinham não se tornaram
realidade, as coisas caíram num vazio, seguindo-se um tormento e
desilusão. Quando estas coisas acontecem, as pessoas quase sempre optam por
viver na miséria e solidão. Inicialmente, este é apenas um mecanismo de
enfrentamento que temos como seres humanos para diminuir a dor, mas ao
permitirmos que a tristeza e desilusão apaguem o prazer da vida, somos
obrigados a tê-las conosco durante muito tempo e em alguns casos para o resto
das suas vidas, podendo desenvolver alguns problemas psicológicos, como: fobia social, ataques de pânico, insónias, ansiedade, depressão. É tempo de percebermos que aprender com o passado e
viver com ele ou dependente dele, são duas coisas diferentes.
O passado é talvez aquilo
que mais nos pesa, não só porque nos acontecem coisas das quais gostaríamos de
esquecer, ou não ter vivido, mas também porque transportamos connosco, o
arrependimento, vergonha e sentimento de culpa de coisas das
quais não nos orgulhamos. Gravamos na nossa mente e igualmente no nosso corpo
as experiências que nos incapacitam, guardamos as memórias dos acontecimentos e
do impacto emocional que tiveram, e sempre que uma situação idêntica nos
transporta para os cenários passados, voltamos a reviver os mesmos pensamentos
e sentimentos, reforçando ainda mais tudo aquilo que nos manda para baixo.
Alguns acontecimentos
podem mesmo condicionar de forma negativa toda uma vida. Não só porque podem
derrubar de forma arrebatadora a pessoa que passou pela situação, alterando o
que pensa acerca do mundo, de si e dos outros, mas principalmente porque
pode ficar num estado de ressentimento exagerado, olhando para tudo e para
todos quase sempre de uma forma hostil, e num estado de proteção, em modo de
sobrevivência.
Na altura em que os
acontecimentos indesejados ocorrem, na grande maioria das vezes, ficamos
com uma ideia acerca do que nos aconteceu e do quanto isso nos afeta, ou pode
vir a afetar no futuro. Essa história que compomos de acordo com a nossa
experiência de vida, crenças e modo de pensar, joga um papel tremendamente
importante acerca da forma como isso nos vai afetar daí em diante.
Em nada ajuda ficarmos
martelando sobre o passado. Não deixar que fatos impensados atrapalhem o presente ou um futuro promissor. Não
adiante conceder o benefício do perdão a quem quer que seja, e ao mesmo tempo
ficarmos olhando o retrovisor.
Para viver o presente
livre, e acima de tudo sem cobranças do passado é necessário, compreender,
aceitar, superar, e ter perspectivas de construção de futuro, e que o amanhã
será diferente e não comprometido pelo o
passado. Viva bem.
VERINALDO ENEAS DA COSTA
(PROFESSOR DE FILOSOFIA)