Não se paralise olhando para o passado! Por Verinaldo Enéas

O ser humano é marcado pelo processo de mudança constante. Passamos por diversas fases durante o período em que aqui vivemos. Fases de acertos, fases de não acertos, tempo que marca nossas vidas positivamente ou negativamente. O importante é ter em mente que o seu amanhã dependera de suas escolhas e não necessariamente do que aconteceu no passado.

Frequentemente, ficamos pensando no passado. Há um ditado que diz: “A única coisa constante na vida é a mudança.” A maioria das pessoas acredita que isto é verdade. À medida que avançamos com a nossa vida, as pessoas que conhecemos as coisas que vemos, e as emoções que sentimos nunca permanecem as mesmas. Impreterivelmente, as pessoas que conhecemos hoje, não serão o mesmo amanhã por causa do simples fato de que elas cresceram e ficaram um dia mais velhas, as coisas que conquistamos, que adquirimos ou que ajudamos a construir podem ser retiradas apenas num piscar de olhos. Até mesmo as nossas emoções são muitas das vezes imprevisíveis. Aquilo que sentimos exatamente de uma determinada forma hoje, muito provavelmente não poderá ser sentida da mesma forma novamente. Neste mundo confuso, nada é permanente a não ser a própria mudança.

Tudo na vida vai e vem, mas há uma coisa que não se altera: o passado. Pelo menos de forma concreta e factual. Como está definido no dicionário, é algo que está acabado, completo, e já não está mais na existência. Algo como palavras pronunciadas, oportunidades que foram ignoradas e eventos que há muito tempo que aconteceram. Este é aquele tipo de coisas que não podemos ter de volta ou voltar atrás, são coisas que nunca poderemos ter novamente e da mesma forma. Nós nunca poderemos voltar atrás, voltar a estar no mesmo lugar, ao mesmo tempo, não podemos voltar atrás no tempo para apagar as coisas que fomos fazendo, ou proteger-nos do sofrimento que sentimos no passado. Nós já sabemos que desejar que pudéssemos mudar o passado é algo inútil, mas como seres humanos que somos, muitos de nós continuaremos a lamentarmo-nos e a ter a esperança de voltarmos a ter a chance de fazer tudo novamente. Mas por quê?

Há momentos na nossa vida em que nós simplesmente não conseguimos deixar as coisas ir. No que diz respeito, por exemplo, aos assuntos do coração, todas as pessoas que viveram a separação ou perda no amor certamente sentiram dor e mágoa. Por circunstâncias desconhecidas, as promessas e as esperanças que tinham não se tornaram realidade, as coisas caíram num vazio,  seguindo-se um tormento e desilusão. Quando estas coisas acontecem, as pessoas quase sempre optam por viver na miséria e solidão. Inicialmente, este é apenas um mecanismo de enfrentamento que temos como seres humanos para diminuir a dor, mas  ao permitirmos que a tristeza e desilusão apaguem o prazer da vida, somos obrigados a tê-las conosco durante muito tempo e em alguns casos para o resto das suas vidas, podendo desenvolver alguns problemas psicológicos, como: fobia social, ataques de pânico, insónias, ansiedade, depressão. É tempo de percebermos que aprender com o passado e viver com ele ou dependente dele, são duas coisas diferentes.

O passado é talvez aquilo que mais nos pesa, não só porque nos acontecem coisas das quais gostaríamos de esquecer, ou não ter vivido, mas também porque transportamos connosco, o arrependimento, vergonha e sentimento de culpa de coisas das quais não nos orgulhamos. Gravamos na nossa mente e igualmente no nosso corpo as experiências que nos incapacitam, guardamos as memórias dos acontecimentos e do impacto emocional que tiveram, e sempre que uma situação idêntica nos transporta para os cenários passados, voltamos a reviver os mesmos pensamentos e sentimentos, reforçando ainda mais tudo aquilo que nos manda para baixo.

Alguns acontecimentos podem mesmo condicionar de forma negativa toda uma vida. Não só porque podem derrubar de forma arrebatadora a pessoa que passou pela situação, alterando o que pensa acerca do mundo, de si e dos outros, mas principalmente porque pode ficar num estado de ressentimento exagerado, olhando para tudo e para todos quase sempre de uma forma hostil, e num estado de proteção, em modo de sobrevivência.

Na altura em que os acontecimentos indesejados ocorrem, na grande maioria das vezes, ficamos com uma ideia acerca do que nos aconteceu e do quanto isso nos afeta, ou pode vir a afetar no futuro. Essa história que compomos de acordo com a nossa experiência de vida, crenças e modo de pensar, joga um papel tremendamente importante acerca da forma como isso nos vai afetar daí em diante.

Em nada ajuda ficarmos martelando sobre o passado. Não deixar que fatos impensados atrapalhem  o presente ou um futuro promissor. Não adiante conceder o benefício do perdão a quem quer que seja, e ao mesmo tempo ficarmos olhando o retrovisor.

Para viver o presente livre, e acima de tudo sem cobranças do passado é necessário, compreender, aceitar, superar, e ter perspectivas de construção de futuro, e que o amanhã será diferente e  não comprometido pelo o passado. Viva bem.

VERINALDO ENEAS DA COSTA
(PROFESSOR DE FILOSOFIA)

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