Respeito à Diversidade; por Verinaldo Enéas

Nos últimos dias vimos no noticiário dos jornais escritos e falados, principalmente aqui na Paraíba, o quanto a minoria é desrespeita, seja por sua cor, por sua religião, por sua opção sexual, por sua situação social ou econômica.

Na atualidade, com o avanço da tecnologia, com o acesso cotidiano a informação, com a mudança e evolução da mentalidade, não é possível manter ideias  arcaicas e preconceituosas, que tanto destrói  nossa sociedade no dia a dia.

O respeito às diferenças existentes entre cada ser humano constitui pressuposto de uma sociedade democrática que, como tal, reconhecendo a singularidade de cada indivíduo e a complexidade que disso emerge, assegura-lhe direitos e garantias que, em verdade, são inerentes a toda e a qualquer pessoa.

Nesse diapasão, o reconhecimento de direitos e garantias referentes à liberdade de um ser humano (inclusive no que tange à sua orientação sexual) representa não uma faculdade ou um "favor" conferido pelo Estado para o deleite de pessoas determinadas. Não se trata de algo guardado no campo do supérfluo da existência humana.

Com efeito, a liberdade atinente à orientação sexual de cada pessoa, assim como, por exemplo, a sua liberdade de consciência, de pensamento e de expressão, encontra inquestionável guarida na esfera dos direitos humanos fundamentais, porquanto intrínseca e visceralmente ligada ao indivíduo.

Partimos da premissa óbvia de que um ser humano, em toda sua particularidade, ostenta qualidades próprias, que lhe são indissociáveis, e que possui gosto e preferências próprios, jamais subtraídos pela opinião alheia. Daí soar evidente que eventual tentativa de constrangê-lo a "optar" por aquilo que não se coaduna com uma simples "opção", ofenderia a sua dignidade como pessoa, atentaria contra suas preferências e afeições, contrastando, ademais, com a diversidade natural havida entre os seres humanos em suas respectivas predileções.

É inegável o caráter plural do brasileiro em função da mestiçagem de seu povo, pano de fundo das expressões culturais mais diversas ao longo do território brasileiro. Poderia parecer fácil e sem obstáculos falar a respeito de diversidade em um país mestiço como o Brasil.

Por anos viveu-se a hegemonia dos iguais, ficando difícil romper com essa visão e perceber que a diversidade não é problema. A promoção da diversidade como valor é a condição que viabiliza o surgimento do novo. Costuma-se colocar o "diferente" na figura do outro, que se torna um dessemelhante. É necessário que se perceba que todos somos diferentes. "Não há um lugar 'normal' de onde se olha a humanidade à procura dos 'outros'. Somos todos diversos e promover a diversidade é valorizar essa condição".

É necessário ir além da constatação de que somos todos diferentes. É preciso localizar e corrigir as distorções minorando ou eliminando os mecanismos produtores de desigualdade.

Não se trata de fazer ufania das diferenças, desconsiderando os critérios de competência e habilidades pessoais. Ao contrário, trata-se de detectar aqueles talentos socialmente emudecidos, para que todos ganhem com a convivência e participem da promoção incondicional da diversidade como valor.

Assim, a idéia de diversidade se coloca nesse momento como um valor a ser perseguido. No cotidiano das organizações a busca pela representação da diversidade humana em seu bojo deve traduzir-se em ações concretas, que vão desde uma redefinição da política de recursos humanos até a revisão das atitudes de todos os colaboradores.

O respeito à diversidade como valor implica em atitudes pró-ativas que levem da contemplação à ação cotidiana. Este respeito pode ser medido em graus, seja em uma sociedade ou uma organização, o que nos permite medir o quanto elas se empenham no sentido da promoção da diversidade.

Assumir medidas afirmativas, ou seja, "medidas especiais e temporárias que têm por objetivo eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização por motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros" pode contribuir para, através da convivência, dirimir os efeitos da segregação.

Assim, a política de adoção de cotas para negros nos vestibulares, de cotas para pessoas com deficiência nos concursos públicos e a contratação de colaboradores que representem a diversidade social são exemplos de ações afirmativas, embora não se esgotem nelas.

Qualquer mudança social é complexa e requer alterações em diferentes níveis de intervenção, tais como, vivencial, social, cultural, econômico e político.

As ações afirmativas visam atingir os níveis vivencial, social e cultural, possibilitando, através da convivência, a quebra de preconceitos arraigados.

Isso não é pouco. A convivência, a participação social, educacional e econômica dos grupos minoritários na vida da comunidade gerará uma cadeia de transformações que, num crescente, abre possibilidades de interferência nos níveis político e econômico.

Bastante discutido nos dias de hoje ainda é a opção sexual de cada pessoa. Aceitar e respeitar a orientação sexual do outro parece algo impossível para a grande maioria das pessoas. A orientação sexual que foge da normativa imposta pela sociedade a séculos, infelizmente após quase 40 anos de comprovação médica, ainda é vista por muitos como uma doença, um desvio de personalidade. É preciso que as pessoas aceitem e respeitem as outras pelo o que elas são, e não por sua orientação sexual. Todos são iguais. Todos pagam impostos. Todos sofrem as penalidades da lei se necessário. Todos fazem parte da mesma sociedade. E é necessário um exercício de respeito diário para que o preconceito seja vencido.

O respeito à diversidade é uma forma de garantir que a cidadania seja exercida e os vínculos sociais fortalecidos. Trata-se de uma atitude política para com a diversidade gerada pelas diferenças de classe, gênero, etnia, opção sexual, capacidades, enfim, de atributos que fazem parte da identidade pessoal e definem a condição do sujeito na cultura e na sociedade, em busca de uma sociedade igualitária, de um mundo sem preconceito, aonde o principio seja o respeito ao próximo.

Outrossim, cabe a todo cidadão, não fazer julgamento, não se  colocar  acima do bem ou do mal, mas respeitar o próxima, assim, teremos uma sociedade mais justa e mais igualitária, menos excludentes, e a certeza de dias melhores.

VERINALDO ENEAS DA COSTA
(PROFESSOR DE FILOSOFIA)

2 Comentários

  1. Parabéns pelo artigo professor, ótimo assunto para ser debatido nos dias atuais, pena que ainda algumas pessoas não aprenderam que somos todos iguais independente de qualquer coisa.

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  2. A ideia Junior é discutir o tema com todo e qualquer segmento, no sentido de contribuir, para uma sociedade menos excludente, voltada para o respeito ao próximo.

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