O PDT anunciou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno contra o atual chefe do Planalto, Jair Bolsonaro (PL). O anúncio foi feito após a reunião da Executiva nacional do partido. O consenso foi fechado na manhã desta terça-feira. Conforme o GLOBO antecipou ontem, o ex-presidenciável da sigla, Ciro Gomes, seguiu a decisão da legenda. Ele, no entanto, não deve fazer campanha para o petista. Em uma pronunciamento oficial, na tarde desta terça-feira, Ciro disse que acompanharia o partido afirmando ser a 'a última saída'.
— A decisão foi unânime. Foi uma decisão unânime e agora vamos comunicar isso com o PT — disse Carlos Lupi, presidente do PDT — É decisão de apoiar o mais próximo da gente, a candidatura do Lula. Uma candidatura que eu chamo de 12+1 — completou.
O presidente do PT afirmou ainda que Ciro Gomes endossa a decisão tomada pelo partido, mesmo depois de uma série de ataques a Lula durante a campanha. Pouco depois,
— Ciro participou da reunião e disse que endossa integralmente a decisão do partido — disse Lupi, que depois afirmou: — Ciro não viajará, ficará aqui no Brasil e já declarou esse apoio através do partido — falando, fazendo menção a ida do ex-presidenciável a Paris, no segundo turno de 2018.
Sobre as críticas de Ciro a Lula, Lupi disse que o processo político às vezes se acirra.
— O processo político às vezes se acirra de uma maneira, eu vivenciei isso com Lula e Brizola em 1989. Um disse que não engolia o sapo barbudo, outro que tinha fugido com a saia da mãe. Era uma coisa muito forte, mas não impediu de Brizola de estar com Lula na campanha [naquele ano] — disse, lembrando o ex-governador do Rio Leonel Brizola.
Desde ontem, o presidente do partido tem conversado com lideranças do PT sobre o apoio ao ex-presidente. O cacique pedetista negociou para que a campanha de Lula absorva propostas caras ao PDT em troca do palanque ao ex-presidente. As prioridades do partido são a renda mínima, no valor de R$ 1 mil, o programa para renegociar dívidas e limpar o nome de pessoas físicas e jurídicas do SPC e Serasa, e a escola em tempo integral. Lupi disse também que vai propor ao PT o Código Brasileiro do Trabalho.
— Ainda não foi falado ao PT, quero ser justo, mas será colocado a questão do Código Brasileiro do Trabalho. Para a gente é fundamental, nós somos um partido trabalhista e é natural que o PT tenha essa mesma visão. É a defesa dos trabalhadores e a revogação de tudo que quer prejudicar o trabalhador brasileiro — explicou Lupi.
O presidente do partido também foi convidado pela campanha de Lula para reunião nesta terça-feira, em São Paulo. Ele deve se encontrar com Lula ainda hoje.
No anúncio de hoje, Lupi também deixou claro que o apoio a Lula é uma decisão do partido e que não vai admitir que nenhum de seus membros fique ao lado de Bolsonaro:
— [O apoio] é um não muito grande a Bolsonaro e ao que ele representa. Bolsonaro, na nossa opinião, representa o atraso do atraso desse país, um aspirante a ditador. Não admitimos nenhum pedetista apoiando Bolsonaro — disse Lupi, que depois ressaltou: — O nosso trabalho para derrota Bolsonaro tem que ser a prioridade absoluta.
Historicamente, o PDT sempre esteve ao lado do PT em disputas de segundo turno à Presidência. Em 2018, o partido pedetista anunciou "apoio crítica" ao ex-ministro Fernando Haddad, então candidato petista, já no domingo, logo após o resultado. Na ocasião, pesou para a decisão a posição de Ciro, que junto com o irmão, Cid, viam no apoio uma forma de fortalecer a aliança entre os dois partidos no Ceará, berço político da família Ferreira Gomes.
Ciro ficou em quarto lugar na disputa ao Palácio do Planalto, com apenas 3% dos votos. Em sua primeira declaração após a derrota, o pedetista afirmou estar “profundamente preocupado” com o futuro do país, além de pedir um tempo antes de se posicionar.
Ao longo da campanha, o pedetista deferiu duros ataques a Lula e o clima entre os dois piorou na reta final, quando o petista adotou a estratégia do voto útil, ou seja, priorizou a atração de eleitores de Ciro sob argumento de que o pedetista não tinha chance de vencer a eleição e, portanto, a opção por Lula seria o caminho mais eficiente para derrotar Bolsonaro.
Apesar dos embates, apurou a reportagem, Ciro considera necessário uma unificação do PDT, que saiu enfraquecido da eleição. A legenda perdeu duas cadeiras na Câmara Federal, saindo de 19 para 17 deputados, não conseguiu eleger nenhum de seus candidatos aos governos estaduais.
Sobre esse resultado, Lupi afirmou que o partido terá que fazer uma avaliação para descobrir onde errou:
— Se a gente não conseguir a população a votar na gente, o erro é nosso. Temos que refletir sobre isso, saber onde erramos.
O Globo